Mudar de vida com um bolo de frutas
Depois de um dia passado no tribunal, Lara chegou a casa, atirou os sapatos para o canto, deixou o vestido caído sobre o soalho, vestiu jeans e um camisolão de lã que lhe dava pelos joelhos, prendeu o cabelo, arregaçou as mangas e enfiou-se na cozinha. Ali sentia que controlava tudo. Ali podia dedicar-se a criar, sem discutir, debater, defender, acusar, sem maquilhagem, saltos altos, cabelo impecável, fato alinhado, sem fingir interesse ou aparentar desinteresse. Ali podia ser ela própria, com a sua vida, infeliz vida, mas sua. Podia chorar, rir, pensar sem se sentir vigiada, deixar descair os ombros, passar as mãos sujas de farinha pela testa. Podia sentir o que lhe apetecia, sem se preocupar com a expressão do rosto, esquecendo por momentos o mundo de aparências em que andava metida. Naquele dia sentia as emoções em completo desalinho. Vira a lei sobrepor-se à justiça, discutira com o chefe por divergências estratégicas na condução de um caso em que estava a trabalhar e, claro, z