Serpente e galinha, que imaginação a minha!

Era uma vez uma galinha que contava até três. Vivia num galinheiro todo catita, para os lados da Benedita. Chocou ovos numa Primavera quente e de um deles saiu uma pequena serpente. Alvoroçado, todo o galinheiro se pôs a cacarejar, até a cobra se assustar.
"Estranha filha", pensou a mãe-galinha.
Decidiu manter-se de bico calado, para que o caldo não ficasse entornado. Dali para a frente manter-se-ia distante, para nenhuma zanga ir avante.
 São doidas as galinhas se pensam meter-se com filhas minhas!  — murmurou, escondendo a serpente debaixo da asa e levando toda a ninhada para casa.
Dos seis ovos chocados, saíram três pintos bem contados. Mais fossem, perder-se-ia nas matemáticas, que galinhas são aves práticas. Três pintainhos e uma serpente catita, qual delas a mais bonita.
Os dias passavam, as crias cresciam e o galinheiro fazia por ignorar que estranhas coisas por ali se viam. Ainda assim, quando não havia olhos de mãe por perto, uma bicadita ou outra na serpente era acto quase certo. Não perturbava consciência de galinha que a outra adoptasse uma cobra como filha. Mas uma estranha inveja daquela relação ameaçava quebrar as regras de boa conduta e abrir espaço à rebelião.
Preparava-se o galinheiro para pregar uma partida, quando surgiu vinda do nada uma raposa esfomeada. Dispunha-se o animal a abocanhar a primeira quando avistou a serpente na capoeira. A raposa apanhou um susto, fechou a boca a custo e abandonou o local fugindo à pressa pelo meio do batatal.
Fez-se festa no galinheiro, com a serpente no meio, que galinha pode ser desabrida mas não é mal-agradecida. Doravante que nada mais nos espante!

© Elisabete Lucas

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