Maestro sapo, ouvidos tapo!

O sapo Adão tinha tudo para ser campeão.
 — De quê?  — pergunta o curioso leitor, quando se interessa pelo que lê e do texto sente o sabor.
 — Sabor?  — volta a inquirir espantado, sentindo-se enganado com tamanho abuso dos sentidos, porque só muito esfomeado se punha a comer os livros!
Se o narrador está a brincar, o melhor mesmo é parar. 
Podem rir à vontade, mas a grande verdade é que o sapo Adão em vez de verde era azulão. E isso não era o mais estranho, dado que ganhava a vida a agitar um pau castanho.
 — Explique-se lá, ó narrador, que a barafunda está a ficar pior!
É simples a explicação: o sapo Adão dirigia uma orquestra de batuta na mão. Era maestro, com tanto jeito, que parecia guiado por um astro, quando tudo saía direito. Só havia um problema: quanto melhor conhecia o tema, mais preguiça lhe chegava e mais ensonado ficava. Não era raro vê-lo adormecer e da orquestra se esquecer. A música silenciava, a plateia assobiava e lá acordava o sapo Adão, que mandava com brusquidão o grupo recomeçar, até no sono de novo entrar e voltar a ressonar.
Ora, visto está que maestro dorminhoco é do pior que há. Ficam os músicos desorientados e os ouvintes decepcionados.
O sapo Adão tinha tudo para ser campeão, porque de música era perito e com as falhas era esquisito. Só que conduzir uma orquestra a dormir era coisa impossível de conseguir.
Um dia, mesmo sabendo da alergia, bebeu três doses de café, no restaurante do senhor Zé. Seguiu-se uma actuação, que aqui se garante, não tem mesmo descrição. O maestro agitava a batuta como se estivesse numa luta, a ponto de os músicos se porem de pé e fazerem um tal banzé, que o público coitado, completamente atordoado, não sabia o que fazer, se rir, se pôr-se a correr.
Depois desta confusão nunca mais se viu o sapo Adão de batuta na mão. Tornou-se professor e a ensinar música era o melhor. Nunca adormecia, quem diria!

© Elisabete Lucas

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