Sabedoria comprada à pressa

Fui à mercearia
comprar sabedoria

mas a lojista desconhecia,
por assim dizer, o que seria
semelhante mercadoria.
Tinha pressa na dita ciência
pedi à senhora muita urgência
mas dei com falta de sapiência
somada de clarividência
e fiquei sem paciência.
A mulher pôs-se a explicar
que queria era abrir um bar
só sabia de contas de somar
pôr música para dançar
e estava ali apenas a desenrascar.
 Então como faço eu esta equação?,
perguntei-lhe eu todo gingão,
uma mão agarrada a um sabão
a outra a pegar num simples pão,
para desviar o receio do raspanete do patrão.
 Se não apareço com o pedido,
posso mesmo ser despedido.
 Esteja descansado, está resolvido,
disse a moça com ar decidido:
volte à empresa com um ar bem bebido.
A mim deu-me para rir à gargalhada
A ela para explicar a tirada:
 Diga que bebeu sabedoria à desgarrada
com o maior sabichão de Almada.
Se saí sábio desconheço, mas também não paguei nada.

Comentários

Lucy Galhardo disse…

Este texto está girissimo. As rimas conferem lhe um tom, uma melodia engraçadissimos. A história em si é muito boa! Parabéns!

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