Luz, afinal!

Aquele Inverno, aquele longo e duro Inverno insistiu em diluir a esperança, encharcando-a de gélidas gotas, soprando-lhe temporais, cobrindo-a de cinza, para lhe conferir aparência defunta. Os rostos do mundo, os das estradas, os dos jardins, os daqui e de acolá, principiaram a encerrar-se, a tornar-se parcos em sorrisos, a temer olhar em frente, com receio de ver um caminho com fim ou o fim do seu caminho. E sem força para procurar um atalho, um qualquer carreiro que impedisse de esbarrar num beco sem saída, num túnel sem fundo e sem brilho, os olhos atinham-se presos ao chão. A esperança, fustigada e cansada, foi-se abrigando como pôde, nas frestas, nas cavidades das calçadas, nos buracos dos caminhos, nas covas das mais insuspeitas casas que os percursos guardam. Olhando para o chão, os olhos daqueles desanimados rostos, descobriram sobejos da esperança que recusou diluir-se, e os lábios puderam sorrir de novo. Afinal o Inverno, aquele longo e duro Inverno, era finito, como finitas são as tempestades. As mãos agarraram pedacinhos daquela esperança que se abrigara da intempérie e os pés perderam o receio de seguir a jornada. Brilhava agora um fio de sol. 

© Elisabete Lucas

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