As palavras soltam-se da ponta dos dedos. Pousam solenes
sobre o papel, transformado em lar. Aí crescem, ganham cores, vestem-se de
liberdade. E viajam. E sonham. E desafiam. E mudam, mesmo quando são palavras
de silêncio.
A lagarta Rita era elegante e bonita, verdinha como uma alface e com uma pinta amarela na face que lhe dava um ar diferente do resto da sua gente. Diferente é o mínimo que se pode dizer desta lagarta que do seu povo estava farta, por se sentir incompreendida e ao mesmo tempo perdida, querendo o que parecia não poder ter e tendo o que certamente não queria. Chega de perder leitores que não gostam de grande largura de escritos e entre-se nos pormenores e nos detalhes esquisitos. Cá vai então a primeira confissão: a Rita era uma lagarta encantadora que queria ser cantora. Mas não cantora de fados ou de musicais animados. Pretendia cantar ópera e, para conseguir o seu intento, todos os dias havia cantoria, fizesse sol ou soprasse vento. E era ouvi-la de manhã cedo, ainda o galo se espreguiçava a medo, a treinar a vocalização e a desafinar até mais não. — Lá está ela outra vez. Que mal é que a gente lhe fez!? – queixavam-se os animais, incapazes de dormir mais. Num belo dia pegou no
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