Aprender a saudade

Lisboa, 10:30 da manhã. A pressa das gentes que percorre o Chiado ignora a melancolia do violino de Kristina. E menos quer saber da tristeza que inunda a sua alma. O céu está vestido de cinza, colorindo do mesmo tom o coração desta jovem que está na cidade por intervenção do acaso, como se este de quando em vez decidisse agir, para não largar à sorte todos os eventos do mundo. Foi mais ou menos por acção aleatória que Kristina acabou por aterrar na capital de um pequeno país europeu, para aprender uma língua muito distante do sueco, com um sol mais quente e mais presente e com um povo que se diz afável, acolhedor.

Com três meses apenas no país, a jovem aprendeu pouco de português e muito de saudade. E sente falta do que lhe é familiar, dos sorrisos que conhece, dos mimos da família e dos amigos, das palavras que a deixam tranquila. Se a língua portuguesa continua a ser para si uma companhia estranha, com a qual convive mal, o fado conquistou-a. Nas manhãs cinzentas, em que se sente mais triste, pega no seu violino e entrega-se a essa música que está longe dos ritmos que conhecia, mas que, como nenhuma outra, está próxima da sua alma. A pressa das gentes não escuta aquela paixão pelo fado. Kristina não se importa. Aos poucos vai conquistando o sol dentro de si, dissipando a tristeza, acalentando a saudade. De olhos fechados, já não vê ninguém. Está no seu mundo.

© Elisabete Lucas

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