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A mostrar mensagens de novembro, 2011

Maestro sapo, ouvidos tapo!

O sapo Adão tinha tudo para ser campeão.  —  De quê?   —  pergunta o curioso leitor, quando se interessa pelo que lê e do texto sente o sabor.  —  Sabor?   —  volta a inquirir espantado, sentindo-se enganado com tamanho abuso dos sentidos, porque só muito esfomeado se punha a comer os livros! Se o narrador está a brincar, o melhor mesmo é parar.  Podem rir à vontade, mas a grande verdade é que o sapo Adão em vez de verde era azulão. E isso não era o mais estranho, dado que ganhava a vida a agitar um pau castanho.  —  Explique-se lá, ó narrador, que a barafunda está a ficar pior! É simples a explicação: o sapo Adão dirigia uma orquestra de batuta na mão. Era maestro, com tanto jeito, que parecia guiado por um astro, quando tudo saía direito. Só havia um problema: quanto melhor conhecia o tema, mais preguiça lhe chegava e mais ensonado ficava. Não era raro vê-lo adormecer e da orquestra se esquecer. A música silenciava, a plateia assobiava e lá acordava o sapo Adão, que mandava

Lagarta cantora, essa agora!

A lagarta Rita era elegante e bonita, verdinha como uma alface e com uma pinta amarela na face que lhe dava um ar diferente do resto da sua gente. Diferente é o mínimo que se pode dizer desta lagarta que do seu povo estava farta, por se sentir incompreendida e ao mesmo tempo perdida, querendo o que parecia não poder ter e tendo o que certamente não queria. Chega de perder leitores que não gostam de grande largura de escritos e entre-se nos pormenores e nos detalhes esquisitos. Cá vai então a primeira confissão: a Rita era uma lagarta encantadora que queria ser cantora. Mas não cantora de fados ou de musicais animados. Pretendia cantar ópera e, para conseguir o seu intento, todos os dias havia cantoria, fizesse sol ou soprasse vento. E era ouvi-la de manhã cedo, ainda o galo se espreguiçava a medo, a treinar a vocalização e a desafinar até mais não.  —  Lá está ela outra vez. Que mal é que a gente lhe fez!? – queixavam-se os animais, incapazes de dormir mais. Num belo dia pegou no

Era um ás, mas andava para trás

Era uma vez um rapaz que tinha tudo para ser um ás. Sabia de matemática, de química, de gramática e até de mímica, mas preferia mandriar, o professor ignorar e os colegas provocar. Já ninguém tinha paciência para tamanha incongruência, entre capacidade e vontade. O professor aborrecia-se, mandava trabalho, que ele esquecia ou, se não esquecesse, era como se todos os erros possíveis de propósito cometesse. Irritado com a evolução do estudante, explicou aos pais a situação preocupante. Estes fizeram orelhas de mercador e recusaram-se a colaborar com o professor. "Que família estranha a deste aluno, que em vez de se preocupar com o estudo, prefere ignorar o problema, como se fosse esse o seu lema!", pensou o professor, com desalento, ainda que não fosse seu intento esquecer o estranho rapaz e deixá-lo ficar para trás. Lembrou-se então de dar ao José uma lição. Com a turma combinaria que coisa nenhuma correcta se diria. Num dia bem acertado, tal como fora combinado, o profes

Serpente e galinha, que imaginação a minha!

Era uma vez uma galinha que contava até três. Vivia num galinheiro todo catita, para os lados da Benedita. Chocou ovos numa Primavera quente e de um deles saiu uma pequena serpente. Alvoroçado, todo o galinheiro se pôs a cacarejar, até a cobra se assustar. "Estranha filha", pensou a mãe-galinha. Decidiu manter-se de bico calado, para que o caldo não ficasse entornado. Dali para a frente manter-se-ia distante, para nenhuma zanga ir avante. —  São doidas as galinhas se pensam meter-se com filhas minhas!   —  murmurou, escondendo a serpente debaixo da asa e levando toda a ninhada para casa. Dos seis ovos chocados, saíram três pintos bem contados. Mais fossem, perder-se-ia nas matemáticas, que galinhas são aves práticas. Três pintainhos e uma serpente catita, qual delas a mais bonita. Os dias passavam, as crias cresciam e o galinheiro fazia por ignorar que estranhas coisas por ali se viam. Ainda assim, quando não havia olhos de mãe por perto, uma bicadita ou outra na serpente era