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A mostrar mensagens de julho, 2012

Mar imenso, deixa-me entrar

Mar imenso, deixa-me entrar leva-me para longe, ao infinito além do que os olhos alcançam: onde se forma o arco-íris as cores se fundem os ruídos se ausentam as gentes não chegam as guerras se desconhecem as fomes perdem registo na memória onde o tempo não importa, e eu possa ser como sou sem mais. © Elisabete Lucas

Quando a teoria colapsa

Era uma vez um burro que habitualmente pregava aos sete ventos (havia sempre correntes de ar para aqueles lados!), porque existiam por ali poucos ouvidos predispostos a pregações. Certo dia, ia a passar uma burra com o pêlo todo eriçado (fica a dúvida se levantado pela ventania, se pelo alcance do olhar!), quando lhe deu (a ele) um formigueiro epistemológico. Imitou dois relinchos para tirar o pó da garganta (dando mostras de personalidade, sem querer), e proferiu, levantando o focinho para o vento quente que soprava mais de cima:  — Q uanto melhor não será sentir um amor de morte do que uma morte de amor? A burra franziu o sobrolho e sorriu no canto do grosso lábio. O burro interpretou isso como um interesse invulgar pela sua prelecção, e, ao preparar-se para a subsequente demonstração teórica de tão evoluído raciocínio, sofreu um colapso arterial. Parou o coração, parou o cérebro. Ficou o dito por dizer. Por isso, foi ela quem falou, não sem antes ter imitado dois relinchos para demo

Voa gaivota, encontra o teu destino

Voa gaivota, encontra o teu caminho sobe bem alto, sobe sempre até céu leva-me contigo num qualquer cantinho para que eu, na subida, encontre o meu. Deixa-me ver da lonjura do universo a imensidão do que deixei sem olhar para que eu nesse olhar assim imerso sinta saudade e, quem sabe, queira voltar. Fixo o mar revolto, vigoroso, imenso sigo o teu voo, invejo-te as asas, a liberdade vejo o mundo lá do alto e sem querer penso que o mundo lá em baixo me deixa saudade. Deixa-me ao vento gaivota, segue o teu destino não te prendas à minha própria sorte abro os braços, fecho os olhos, estou a voar sem tino sinto-me, como nunca, a muitas milhas da morte. © Elisabete Lucas